Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já
o não tenho. Pesa-me um como a possibilidade de tudo, o outro
como a realidade de nada. Não tenho esperanças nem saudades.
Conhecendo o que tem sido a minha vida até hoje - tantas vezes e
em tanto o contrário do que eu a desejara -, que posso presumir da
minha vida de amanhã senão que será o que não presumo, o que
não quero, o que me acontece de fora, até através da minha vontade?
Nem tenho nada no meu passado que relembre com o desejo
inútil de o repetir. Nunca fui senão um vestígio e um simulacro
de mim. O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as
sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige
o momento; passado este, há um virar de página e a história continua,
mas não o texto.
(PESSOA, F. Livro do Desassossego.1980, p. 420).
Essa é a Neila que eu conheço!
ResponderExcluirUm abraço!