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sábado, 26 de novembro de 2011

Duzentos Ladrões

Há meio ano recebi de algumas pessoas queridas uma versão pocket de Danton Trevisan, chamada Duzentos Ladrões, em meio a uma porção de livros emprestados. Não lembro quais foram as recomendações, as indicações e a opinião de ambos, além do comentário que poderia ser uma leitura rápida. O semestre letivo passou e hoje eu o peguei da estante. Junto dele trouxe para o quarto A Sociedade do Anel e A Brincadeira que estão fazendo companhia para uma coleção de livros “para ser lidos com tempo”.

Comecei a leitura sem nenhuma leitura prévia sobre o autor, a forma como escreve, o gênero literário ou o tempo da escrita. Foi surpreendente. Diferente do que estou acostumada. Tratam-se de pequenos...não sei se pode se dar essa classificação...Mas vamos dizer que sim, então, são pequenos contos que chamaram minha atenção e lembraram o absurdo do existencialismo de Camus. Além disso, há uma pontuação, um uso ou falta de vírgulas, não sei, que me confundiu um pouco, algumas vezes tive que reler pra ver se encontrava outro significado e, muitas dessas vezes, não o encontrei. Talvez por estar com O Senhor dos Anéis e A Brincadeira ao meu lado, deitados sobre a mesma cama, não via a hora de terminar aquela leitura que me mexia comigo de forma estranha. Lembrei de Barthes ao citar a diferença entre textos de prazer e de gozo. Certamente não estava sendo um texto de prazer, seria de gozo?

Para cada um dos textos eu tinha algumas observações, geralmente negativas - se o autor pudesse me ouvir, mas nenhuma comparada à repulsão que me invadiu ao ler Ezequiel. Há pouco tempo a Secretaria de Saúde de Chapecó criou o Comitê Contra Violência Infantil, eu escuto os comentários sobre as formas de violência sexual, como ocorrem, por quem são provocadas, e sempre tenho mais certeza de que eu não suportaria fazer parte deste comitê e precisar ouvir maiores detalhes. Ezequiel poderia bem ser um relato de uma das meninas. Comentários que eu não gostaria de ouvir de nenhuma criança. Parei de ler, respirei um pouco e pulei algumas páginas.

Fui para O Amante e pensei: “Quem falaria uma coisa dessas?” No fim de tudo, depois de voltar e ler outros textos da metade do livro descobri que, definitivamente era mesmo uma leitura rápida, mas que Craquinho não poderia nem mesmo ser usada nas aulas do Proerd e que Querida mostra como tantas vezes nós mulheres somos idiotas com os homens e como os homens tentam surpreender-nos sem pensar nas conseqüências, mas que agora estou voltando a viver. Hoje eu li o primeiro livro sem ter que fazer análise ou qualquer coisa do gênero. Hoje eu li o primeiro livro, acho que no ano, sem que precisasse ler. É, voltei a viver hoje, certamente. Agora vou ver o que Kundera e Tolkien têm pra me dizer.

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