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sábado, 26 de novembro de 2011

Ezequiel - Dalton Trevisan

Em Curitiba no ano de 1948 ou 49, não me lembro bem, João eu não sei se foi no ano de 1948 ou 49 que um homem veio lá em casa com desculpa de namorar minha tia. Ele se chamava Ezequiel, não sei qual é o sobrenome nem me interessa saber. Minha tia não o queria, era um homem feio, além disso sem profissão. Fiquei gostando dele porque levava um rádio e deixava-o lá em casa.
Certo dia, ele apareceu com um auto. Disse a meus pais que queria passear com meu irmãozinho. Meus pais deixaram. Eu fui na frente com ele, meu irmão atrás. Ele nos levou a uma rua deserta e parou a lata velha, é como dizem para certo tipo de carro. Ele pediu a meu irmão que se deitasse porque outro homem ia passar por ali. O outro homem não gostava de criança. Daí perguntou qual era meu nome, Joana eu disse, quantos aninhos você tem, oito anos eu disse, você quer uma boneca de cachinho, quero eu disse. Ele prometeu todas as bonecas de cachinho se eu não gritasse.
E isso repetiu-se algumas vezes. Uma tarde ele pediu a minha mãe para dar um passeio e ela deixou. Foi tudo mentira, me levou na casa onde morava. Me deixava na cama, dizia eu era a filhinha dele, chamada Rita igual minha tia. Como é teu nome, ele perguntava, Rita eu dizia. Na casa dele ia sempre de dia.
Eu lembro que nunca me beijou na boca. Certa vez foi no quarto. Não foi na cama e sim no guarda-roupa. Me arrumou em pé com a porta aberta, de maneira que fiquei da altura dele.
Mudamos para Antonina. Ele foi lá um ano depois. Numa tarde em que meu pai andava na rua. Estava só a mãe, meu irmão e eu. Conversou um pouco, minha mãe foi fazer café. Eu, meu irmão e ele ficamos na sala. Me pôs no colo, abriu um jornal, mandou que eu lesse. Bem o meu irmão ficou desconfiado dos movimentos que ele fez.
Papais foi embora para o mar. Minha tia casou com outro. O tal nunca mais foi lá em casa, não sei se morreu. O nome dele é Ezequiel.

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